quarta-feira, 10 de abril de 2013

Martha Gabriel: " Empresas que permanecerem apenas no off-line estarão limitadas e mancas."


Autora de quatro livros, inclusive o best seller “Marketing na Era Digital“, palestrante de três edições do TEDx, keynote speaker internacional  e  premiada três vezes como melhor palestrante em congressos nos Estados Unidos, Martha Gabriel vai estar, pela primeira vez, no Congresso Mega Brasil de Comunicação.  Será no dia 24 de abril, das 17h às 18h10, e ela vai abordar a Inovação e o Crowdsourcing, duas tendências sem volta do mercado em geral. Com exclusividade, ela falou ao blog do #congresso4em1, e aproveitou para dar uma palha sobre novo lançamento editorial a caminho.  

#congresso4em1: Você trafega por departamentos de Marketing e Comunicação de empresas, atua com pessoal de agências digitais, escreve livros e dá palestras e tutoriais sobre as novas formas de fazer o correto link entre empresa e clientes, considerando a internet.  Como você avalia o processo de inovação e criatividade dos últimos 5 anos, e o que você acredita que será tendência para os próximos 5 anos?

Martha Gabriel - O Brasil é um país em que não falta criatividade: ela faz parte da nossa cultura. No entanto, em termos de inovação estamos muito mal rankeados em relação ao mundo. A inovação tem se transformado em um dos principais focos das empresas e indivíduos para lidar com o cenário tecno-social atual, que muda constantemente em uma velocidade vertiginosa. A transformação acelerada traz problemas inéditos que não conseguem ser resolvidos por meio de fórmulas previamente estabelecidas. A inovação é a única forma de se solucionar o novo. 

As empresas em geral têm sentido essa transformação e estão buscando soluções para inovar. Para acontecer de forma sistemática, a inovação precisa de metodologia e não apenas de criatividade, e aí acontece o gap da inovação no Brasil. Metodologia requer disciplina e processos. Ainda são poucas as empresas (normalmente as grandes) que têm desenvolvido processos de fomento à inovação que se incorporem ao DNA da organização. Da mesma forma que tivemos a era da "Qualidade Total" no final do século passado, que disseminou a qualidade nas empresas, acredito que nos próximos anos teremos o mesmo processo em relação à inovação nas empresas.

#congresso4em1: Eu percebo que há muitas empresas que tiveram seu sucesso consolidado no mundo off-line considerando entrar em social media para criar relacionamento direto com seu público. Muitas delas têm conseguido e criado novas formas de fidelizar, de conversar com seu público e vender  mais também. Mas, ainda que muitas estejam conseguindo desenvolver suas estratégias, monitorar resultados - o modelo de negócios ainda é offline - e o uso da internet acaba sendo um apêndice, uma mídia, ao invés de se tornar um mercado em si.  Como você vê isso no Brasil (entre pequenas, médias e grandes empresas) e ainda, você acha que as empresas que não nasceram neste meio virtual terão quanto tempo ainda para adequarem seus modelos de negócio considerando a internet como um mercado?

Martha Gabriel - A camada digital no mundo hoje é tão importante quanto o mundo off-line. Em alguns anos não será possível sobreviver sem o digital da mesma forma que não é possível sobreviver hoje sem eletricidade. O ON e o OFF co-existem e dialogam o tempo todo. As empresas que permanecerem apenas no off-line estarão limitadas e mancas, conforme as pessoas comecem a usar o online como parte inseparável de suas vidas. Assim, não importa o tamanho da empresa, ela precisará ter presença digital para sobreviver. Isso já está acontecendo rapidamente -- tenho visto, principalmente desde o ano passado, uma corrida nas empresas de todos os portes para tentar compreender o ambiente digital e se capacitar para traçar estratégias nesse ambiente. Por ser um assunto ainda novo e que muda o tempo todo, o digital acrescenta complexidade ao ambiente e ao marketing. No entanto, a existência e sucesso das empresas depende cada vez mais de sua atuação simultânea e integrada entre as plataformas online e off-line. Assim, acredito que o tempo já está se esgotando para as empresas adequarem seus modelos de negócios considerando a internet.

#congresso4em1: Você que está no dia a dia do trabalho estratégico de empresas, acredita que a comunicação encareceu, continua a mesma porque apenas mudamos ferramentas ou barateou?  Como você acredita que seja um modelo de sucesso para quem quer começar a fazer este trabalho?  Além de um profissional de Marketing de Internet, é imprescindível a toda empresa ter um web-designer, programadores, analistas... como você sugere que seria um bom time para cuidar da comunicação de marketing de uma empresa? Um organograma, por exemplo.

Martha Gabriel - Acredito que, em função de vários fatores - sobrecarga informacional, hiper-conexão, distribuição do poder de publicação, multiplicidade de plataformas etc. -, o sistema de comunicação ficou mais complexo e, portanto, requer um sistema mais sofisticado que inclua profissionais multidisciplinares. Isso não significa necessariamente que a comunicação encareceu ou barateou, mas que requer mais colaboração e integração de áreas. Se for bem planejada, a comunicação incluindo o ambiente digital pode trazer uma relação custo/benefício muito melhor do que a utilização apenas das mídias tradicionais. O ideal, quando possível, é que a empresa trabalhe com agências especializadas e colaborem ajudando na implementação de áreas específicas, como monitoramento em mídias sociais, design e desenvolvimento de peças digitais, etc. O time interno de comunicação de marketing deve ter a função estratégica para fazer o planejamento e determinar as táticas que deverão ser usadas -- em função disso devem ser escolhidos os parceiros. Outra atividade essencial do time interno é a gestão do conteúdo, que depende intrinsecamente do posicionamento, estratégia, missão, visão e valores da empresa. Isso não deveria ser delegado a terceiros.

#congresso4em1: Como está o Brasil em relação ao resto do mundo no que concerne ao uso correto da Internet para as estratégias de Com e Mkt?

Martha Gabriel - Em termos de utilização de técnicas e tecnologias, o Brasil está no mesmo nível que Estados Unidos e Europa. No entanto, em termos de maturidade de mercado, investimento e aplicação das ações no ambiente digital, de uma forma geral (considerando-se pequenas, médias e grandes empresas), ainda estamos defasados. Acredito que conforme a penetração tecnológica e conexão se distribua mais uniformemente no país, as empresas começarão a investir mais na integração com o digital.

#congresso4em1: Algum novo livro no forno? Sobre o que?

Martha Gabriel - Sim :-) O novo livro é sobre os impactos das tecnologias na educação e sai em Junho, pela Editora Saraiva. Estou muito feliz com esse novo projeto, pois a educação é a minha paixão maior, está relacionada com todas as áreas do conhecimento. Acredito que a educação resolva todo tipo de problema no mundo, pois ela habilita as pessoas a desenvolverem pensamento crítico e solucionarem problemas. A revolução digital tem impactado profundamente a aprendizagem e a educação, da mesma forma que tem transformado o marketing, os negócios, a sociedade. Assim, acredito que a discussão e a reflexão sobre esse nosso mundo em aceleração exponencial é essencial para encontrarmos os caminhos para atuar e viver com as mudanças que se apresentam.